sábado, 23 de janeiro de 2010

O funeral


Charles Carol Coleman - Funeral March


Se há evento em que detesto estar presente é um funeral e não por o mais óbvio: a perda de um ente querido. De certo isso também ajuda um bocado.
Uma pessoa morre, toda gente fica a saber (aqui na minha zona e em toda a freguesia). Maior parte das pessoas que comparecem na igreja e cemitério muitas vezes nem chegaram a falar uma única vez com o falecido, marcam presença porque são mesquinhas e querem saber quem vai e quem não vai, quem chora e quem não o faz e os motivos para tudo isso.
Mas se há coisa que altera totalmente o meu estado de espírito é o facto de estas pessoas não-bem vindas terem o descaramento e a indecência de falarem alto e rirem durante a cerimónia e no enterro. Juro, pela minha saúde, que nesses momentos me apetece distribuir chapadas a tudo o que fala! É uma total falta de respeito! É indecente! É mesquinho! É descarado! É vergonhoso! É um ultraje! Raios os partam!
Para acumular o meu gosto por funerais, o padre da região faz algo perto da nulidade: chega atrasado, é interesseiro (por dinheiro), incompetente, dá a missa com trombas, mal humorado, é apressado. Não tem compaixão pela família e amigos do falecido, diz o que tem a dizer e vai embora, deve de ter pressa para ir ver As Tardes da Júlia ou o programa do outro da manhã.
O funeral é suposto ser um tributo, honra, despedimento das pessoas mais próximas do falecido, e não um passatempo ou uma desculpa para faltar ao trabalho.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Corações Quebrados

Música: Jesus Bleibet Meine Freyde

© by Nayla Smith


À dias atrás tive oportunidade de ver um filme intitulado "Corações Quebrados": A história de duas mulheres cancerosas, uma delas na flor da vida, a outra já na terceira idade, que enfrentam o maior desafio das suas vidas: lutar contra a ameaça de morte. Vivendo na mesma cidade, convivendo com personagens excêntricas, os seus esforços conjuntos para ultrapassar a sua dramática realidade fornecem ás duas mulheres e a todas que as rodeiam uma enorme lição de vida.


Este pequeno filme de 95 minutos deu-me que pensar, e não foi só cancro mas também pelo que está por trás e com quem eu me identifiquei. Além das duas protagonistas existe o seu médico que tem problemas psicológicos e ao longo do filme vão mostrando as evoluções dos 3 casos. Como era de se prever o realizador focou a história em torno do "cancro".


Se senti alguma injustiça? Sim. Por mais grave que o cancro seja (ou qualquer outra doença que envolva vírus, bactérias e afins), não torna uma pessoa afectada psicologicamente num caso menos preocupante. Aliás eu nem sei qual dos dois casos é mais preocupante. 
Provavelmente a maioria das pessoas nesta situação pensam que o cancro é mais grave e eu não discordo, mas o que penso é que as pessoas afectadas psicologicamente são menosprezadas pela sociedade.
Por experiência própria, eu sei o que isso é, porque eu mesma sou menosprezada pela minha própria família, amigos e desconhecidos. Embora eu tenha noção que alguma das coisas que me são ditas sejam verdade, as pessoas têm de compreender que a depressão não é facto de uma pessoa se sentir triste ou deprimida  e que temos de nos dirigir a ela por um meio alternativo que não seja o mais directo e duro.


Sabiam que problemas relacionados com o psicológico aumentam a probabilidade de aparecimento de cancros? Cancros, problemas no coração, doenças no geral. Já para não se falar nos suicídios, que é o mais grave. Num cancro é uma questão biológica, ou consegue reagir ao tratamento ou não consegue. Psicológicos: não se consegue ver, não há um único caso igual, as consequências podem ser terríveis e marcantes para toda a vida, já para não falar que um pessoa que os tenha e não seja devidamente acompanhado pode se tornar um perigo para a sociedade.
Espero que entendam que ao escrever isto não quero meter as pessoas perturbadas psicologicamente acima das pessoas com graves problemas de saúde, mas sim tentar fazer com que as pessoas entendam que estar deprimido ou num estado prolongado de ansiedade não é uma coisa banal e que não mereça atenção e cuidado.