“Há muitas coisas estranhas no mundo.
Entretanto, independentemente do quão bizarro for uma ideia... se não houver ninguém, se não houver ninguém para vê-la, se não se envolver ninguém, é apenas um simples fenómeno.
Isso é porque as pessoas são as criaturas mais estranhas no mundo.”
Se existe algum momento em que nos sentimos confusos, bloqueados e esquecidos sobre tudo na nossa vida, se tudo o que está dentro de nós é névoa, se não sabemos qual a nossa personalidade, o que gostamos... o que desgostamos; então eu estou a passa-lo. Se fosse uma coisa leve eu não me importava muito mas como já alcança grandes proporções o meu corpo já está alterado físico-psicologicamente.
De algumas semanas para cá tenho notado uma diferença muito grande no modo do meu descanso, tenho sonhos, ou até mais do que um, todos os dias e durmo entre 10 a 12 horas, o meu sono tornou-se mais pesado e quando acordo sinto-me cansada e ensonada. Verdade seja dita, eu já pensei em algumas doenças possíveis mas desta vez não o fiz como antigamente, sei que estou esgotada, sei que a minha mente pede descanso. E também sei o que muitas pessoas vão pensar quando lerem isto “Mas ela não faz nada na vida, não trabalha, não estuda, não sai, não tem filhos para alimentar, não tem projectos para entregar... ela não sabe o que é estar esgotada.”
Os meus 19 anos, os meus odiados 19 anos, os odiados dias de 19 anos, o odiado rosto de 19 anos...
Tenho 19 anos, e estou longe de ter os 19 anos porque com esta idade uma pessoa tem de ter a sua vida planeada, carta de condução tirada, frequentar curso universitário e ter o seu projecto de vida encaminhado, por estereótipo da sociedade. Eu não tenho, muito pelo contrário a minha vida não está planeada, não tenho a carta de condução, não frequento curso nem universitário nem nada que se pareça e o meu projecto de vida está um fracasso. A minha família que o diga, pois todos os dias fazem questão de me lembrar o quão inútil e infantil eu sou... a minha família e afins pois bocas do género “Então nunca mais tira a carta menina? Olhe que o meu rapaz já tem e é mais novo 1 ano!” ou “Oh tens 19 anos? Então e estás em que curso?” eu ouço praticamente todos os dias, e digamos que não ajuda nada na minha já fragilizada auto-estima.
Uma coisa é certa, eu não consigo satisfazer a toda gente, mas pelo menos a mim tenho de o fazer e nem isso consigo. A minha auto-estima nunca foi das mais altas, mas admito que está a baixar e apesar de não me magoar fisicamente, eu detesto-me. Não gosto de nada em mim e tudo o que gosto de fazer acaba sempre por receber represálias das pessoas que me rodeiam. Escrever é uma delas, e se há coisa que me custa muito não conseguir fazer é escrever. A verdade é que já me sinto mal ao fazê-lo, e isso cria uma revolta dentro de mim porque sempre foi a coisa que mais gostei de fazer em toda a minha vida, e agora sinto-me sufocada. Não gosto do que escrevo, pois tenho sempre a impressão de que estou a ser repetitiva, me escapam coisas e que escrevo mal. Por exemplo, planeei escrever este texto no dia dos meus anos, tendo em conta que faço anos a 4 de Janeiro, só o consegui acabar agora (passado 6 meses).
Para quem eu escrevo? Não sei. Porque escrevo? Não faço a mínima ideia...
